Homilia Solenidade de Cristo-Rei -
Eu pergunto: Jesus é Rei? Como pode ser Rei,
num mundo paganizado, num mundo pós-cristão, num mundo que esqueceu Deus, num
mundo que ridiculariza a Igreja por pregar o Evangelho e suas exigências?… Pelo
menos do Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo o mundo não quer saber… Como,
então, Jesus pode ser Rei de um mundo que não aceita ser o seu reinado? E, no
entanto, hoje, no último domingo deste ano litúrgico de 2012, ao final de um
ciclo de tempo, voltamo-nos para o Cristo, e o proclamamos Rei: Rei de nossas
vidas, Rei da história, Rei dos cosmo, Rei do universo. A Igreja canta, neste
dia, na sua oração: “Cristo Rei, sois dos séculos Príncipe,/ Soberano e
Senhor das nações!/ Ó Juiz, só a vós é devido/ julgar mentes, julgar corações”.
O
texto do Apocalipse citado no prefácio desta meditação dá o sentido da realeza
de Jesus: ele é o Cordeiro que foi imolado. É Rei não porque é prepotente, não
porque manda em tudo, até suprimir nossa liberdade e nossa consciência. É Rei
porque nos ama, Rei porque se fez um de nós, Rei porque por nós sofreu, morreu
e ressuscitou, Rei porque nos dá a vida. Ele é aquele Filho do Homem da
primeira leitura: “Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os
povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será
tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá”.
Com efeito, o reinado de Cristo não tem as características dos reinados do
mundo.
(1)
Ele é Rei não porque se distancia de nós, mas precisamente porque se fez “Filho
do homem”, solidário conosco em tudo. Ele experimentou nossas pobrezas e
limitações; ele caminhou pelas nossas estradas, derramou o nosso suor,
angustiou-se com nossas angústias e experimentou tantos dos nossos medos. Ele
morreu como nós, de morte humana, tão igual à nossa. Ele reina pela
solidariedade.
(2)
Ele é Rei porque nos serviu: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas
para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Serviu com toda a
sua existência, serviu dando sempre e em tudo a vida por nós, por amor de nós.
Ele reina pelo amor.
(3)
Ele é Rei porque tudo foi criado pelo Pai “através dele e para ele” (Cl 1,15);
tudo caminha para ele e, nele, tudo aparecerá na sua verdade: “Quem é da
verdade, ouve a minha voz”. É nele que o mundo será julgado. A televisão, os
modismos, os sabichões de plantão podem dizer o que quiserem, ensinarem a
verdade que lhes forem conveniente… mas, ao final, somente o que passar pelo
teste de cruz do Senhor resistirá. O resto, é resto: não passa de palha. Ele
reina pela verdade.
(4)
Ele é Rei porque é o único que pode garantir nossa vida; pode fazer-nos felizes
agora e pode nos dar a vitória sobre a morte por toda a eternidade: “Jesus
Cristo é a testemunha fiel e verdadeira, o primeiro a ressuscitar dentre os
mortos, o soberano dos reis da terra”. Ele reina pela vida.
Sim,
Jesus é Rei: “Eu sou Rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo!” Mas seu
Reino nada tem a ver com o triunfalismo dos reinos humanos – de direita ou de
esquerda! Nunca nos esqueçamos que aquele que entrou em Jerusalém como Rei,
veio num burrico, símbolo de mansidão e serviço. Como coroa teve os espinhos;
como cetro, uma cana; como manto, um farrapo escarlate; como trono, a cruz. Se
quisermos compreender a realeza de Cristo, é necessário não esquecer isso!
A marca e o critério da realeza de Cristo é e será sempre, a cruz!
Hoje,
assistimos, impressionados, a paganização do mundo, e perguntamos: onde está a
realeza do Cristo? – Onde sempre esteve: na cruz: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse
deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos
judeus. Mas o meu reino não é daqui”.
O
Reino de Jesus não é segundo o modelo deste mundo, não se impõe por guardas,
pela força, pelas armas: meu Reino não é daqui! É um Reino
que vem do mundo do amor e da misericórdia de Deus, não das loucuras
megalomaníacas dos seres humanos. E, no entanto, o Reino está no mundo:
“Cumpriu-se o tempo; o Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15); “Se é pelo dedo de Deus que eu
expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou para vós” (Lc 11,20).
O Reino que Jesus trouxe deve expandir-se no mundo! Onde ele está? Onde
estiverem o amor, a verdade, a piedade, a justiça, a solidariedade, a paz. O
Reino do Cristo deve penetrar todos os âmbitos de nossa existência: a economia,
as relações comerciais, os mercados financeiros, as relações entre pessoas e
povos, nossa vida afetiva, nossa moral pessoal e comunitária.
Celebrar
Jesus Cristo Rei do Universo é proclamar diante do mundo que somente Cristo é o
sentido último de tudo e de todos,
que somente Cristo é definitivo e absoluto. Proclamá-lo Rei é dizer que não nos
submetemos a nada nem a ninguém, a não ser ao Cristo; é afirmar que
tudo o mais é relativo e menos importante quando confrontado com o único
necessário, que é o Reino que Jesus veio trazer. Num mundo que deseja esvaziar
o Evangelho, tornando Jesus alguém inofensivo e insípido, um deus de barro,
vazio e sem utilidade, proclamar Jesus como Rei é rejeitar o projeto pagão do
mundo atual e proclamar: “O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o
poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A ele a glória e poder
através dos séculos”. Amém (Ap 5,12; 1,6).
Homilia Pe. Lucimar 25/11/2012