Existe uma coisa
chamada oportunidade. Atualmente por causa de uma novela temos a oportunidade de falar mais
sobre o culto aos santos e, especificamente, estimular o culto a São Jorge. Um
culto que não pode ser diminuído por causa do sincretismo religioso que existe
no Brasil! Inclusive considero importante sabermos qual a postura que a Igreja
exige de nós frente ao sincretismo: não de um proselitismo, mas de uma visão de
oportunidade para evangelizar.
Infelizmente a visão de
santidade que os protestantes tem como algo "separado" para Deus, no
sentido de superioridade e pertença, têm tido muito adesão no meio católico.
Vale lembrar que santidade, no catolicismo, não tem muito a ver com a santidade
pregada pelas comunidades cristãs evangélicas/protestantes/pentecostais.
No catolicismo
ninguém tem uma fé. Nós recebemos uma fé! E não é nossa. É dada. Não precisamos fazer
absolutamente nada para merecer essa fé... Não precisamos parar de beber, de
fumar, de dançar, de ver a Globo, etc, etc. A fé não é nossa. É um presente de
Deus. Nós a recebemos e pronto. Parece óbvio, mas não o é.
Se não temos a
compreensão disso, também não compreendemos o que seja a santidade. O santo é, realmente,
o separado para Deus. Mas não no contexto que quer o protestantismo! O santo é
partícipe de Deus. Está em Deus. Está no mundo! Não é o não fumar, o não beber,
o não ver a Globo, e outros nãos que nos fazem santos... A condição para ser
santo é participar da vida em Deus. As outras coisas são consequências.
Pode alguém ser
santo e ver novela? Mas é claro que pode. É apenas mais difícil, risos... Mas pode. De fato
precisamos evitar ocasião de pecado, evitar programas que não contribuem com
nossa vida espiritual. Mas isso em hipótese alguma condiciona a santidade a uma
lista de coisas para não fazer. Como quer o protestantismo.
E por que é assim? Porque não é por
nosso esforço pessoal que somos santos. Claro, Deus leva em conta nosso esforço
de querer fazer a vontade Dele! E leva isso tão a sério que no Céu há santos e
santos... =) Sim. Os santos não são todos iguais no céu. Os que mais se
esforçaram tem, em termos práticos, uma visão beatífica e uma posição diante de
Deus que outros não tem. É assim que cremos os católicos. Para demonstrar isso
basta ver a posição de Nossa Senhora e São José... Nossa Senhora está acima de
todos os santos, inclusive dos próprios anjos que são santos também,
obviamente. São José está acima de todos também, menos de Nossa Senhora... E
assim segue-se misteriosamente a hierarquia dos santos.
É uma questão de
justiça divina.
Então, é isso: a santidade não
está condicionada meramente ao que fazemos, como se seguíssemos uma lista de
coisas permitidas e evitássemos uma lista de coisas proibidas. A santidade está
condicionada a nossa abertura para a Graça, pois é Deus que nos santifica! E
isso implica em dizer que vamos ter outra conduta e vamos ter outras obras? É
claro que sim.
A fé sem obras é
morta.
O pensamento
protestante não entende isso e, embora defenda que as obras de
nada valem para a salvação, são justamente os protestantes que, na prática,
exigem de si mesmo uma "força tarefa" para conseguirem se santificar
por meio das coisas que fazem! Daí o proselitismo tão comum nesse meio.
O protestante crê
que faz cristãos. Os católicos não fazemos cristãos! Sequer nos fazemos cristãos... É
Deus mesmo que faz o cristão. É por isso que, além de ser chato, o proselitismo
é estéril. Não adianta pregar sobre Jesus na expectativa de que as pessoas se
tornem cristãs como que por osmose bastando para isso "aceitar" o
Senhor, como que por um contrato.
Daí insistir que
não temos uma fé. Mas recebemos uma fé! E por isso o catolicismo é "universal".
Não é que não importa a nacionalidade e a cultura da pessoa para um
"cadastro" no catolicismo... É que não existe cadastro! Não existe
uma carteirinha católica, como existe a carteirinha protestante que, no melhor
dos casos, é o batismo. E está errado! O batismo não é um cadastro de
cristãos... É um sacramento. É uma graça.
Não é a toa que muitos
estudiosos nos dizem que o mundo moderno tem no protestantismo a sua religião.
E eu acho que estão certos! No mundo moderno vale o contrato... E o
protestantismo é justamente isso: um contrato do homem com Deus. É por isso que
é tão difícil para um protestante de nascença entender que a Igreja Católica
não é "uma placa de igreja", risos. É por isso que é difícil para os
tribunais de alguns países, especialmente de influência protestante, entender
que o padre não é um "funcionário" do Papa.
É por isso que nos
países católicos dizemos que as igrejas protestantes são empresas... Não é para ser
pejorativo, embora alguns o façam nessa intenção. É para demonstrar a própria
visão que os protestantes têm de si mesmos, ainda que não vejam nada de errado
nisso.
Digo tudo isso para lhes dizer
que não há nada errado em dizer "Salve Jorge" e mesmo em utilizar
orações populares ao santo ainda que essas orações sejam usadas num terreiro de
macumba. E não há nisso escândalo algum... Certamente nenhum católico irá a um
terreiro de macumba reverenciar São Jorge simplesmente porque isso faria
sentido algum. Mas sendo o catolicismo de característica "universal",
isso implica em dizer que podemos sim absorver aspectos culturais inclusive de
adeptos de outras religiões!
Aliás... Foi só o que
fizemos nesses mais de 2000 anos! ;)
Eu até compreendo que por um motivo
pedagógico se ensine um católico mais jovem em sua fé a manter-se afastado de
certas influências. Mas isso varia com a situação! É preciso lembrar que nós,
católicos, não assinamos contratos espirituais. Não temos uma fórmula mágica
que nos torna mais ou menos cristãos.
E isso é um dom! E também um dos
nossos maiores problemas... Risos. Os aproveitadores de todos os naipes sabem
muito bem utilizar essa "flexibilidade" (para falar a partir de uma
visão moderna, contratual ainda) da religião católica.
Em resumo, eis a nossa
oportunidade: compreender melhor o que seja o culto aos santos, mas compreender
melhor ainda que santidade não tem nada a ver com o que se ouve e se vê no
exemplo protestante - que, obviamente, fazem o melhor que eles podem fazer, mas
fazem a partir de uma compreensão errada.