Domingo
de Ramos
Relembrando a Entrada do Senhor
Jesus em Jerusalém. Ele é o Filho de Davi, o Messias esperado por Israel, que
vem tomar posse de sua Cidade Santa. Mas, que surpresa! É um Messias humilde,
que entra não a cavalo, mas num humilde burrico, sinal de serviço e pequenez!
Ei-lo: seu serviço será dar a vida pela multidão. Ele é Rei, mas rei coroado de
espinhos e não de humana vanglória. Termos seguido o Senhor nessa solene
procissão com ramos é tê-lo reconhecido como nosso rei, rei pobre e humilde.
Tê-lo seguido é nos dispor a segui-lo nas pobrezas e humildades da vida,
dispondo-nos a participar de sua paixão e cruz para ter parte na glória de sua
ressurreição.
Após a Procissão de Ramos, que
pensamentos poderíamos colher agora na Liturgia da Palavra desta Missa da
Paixão do Senhor? Eis alguns pensamentos:
Primeiro: O meio que Deus escolheu para nos salvar
não foi o que é grande e vistoso, tão apreciado pelo mundo. Ao invés, o Pai nos
salvou pela humilde obediência do Filho Jesus. Reconheçamos na voz do Servo sofredor
da primeira leitura a voz do Filho de Deus: “O Senhor Deus me desperta cada
manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo. O Senhor
abriu-me os ouvidos; não lhes resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para
me baterem e as faces para arrancarem a barba. O Senhor é o meu Auxiliador, por
isso não me deixei abater o ânimo, porque sei que não serei humilhado”.
Palavras impressionantes, caríssimos! O Filho buscou humildemente, na
obediência de um discípulo, a vontade do Pai – e aí encontrou força e consolo,
encontrou a certeza de sua vida. São Paulo, na segunda leitura de hoje,
confirma isso com palavras não menos impressionantes: “Jesus Cristo, existindo
na condição divina, esvaziou-se de si mesmo, humilhou-se, fazendo-se obediente
até a morte, e morte de cruz”. Caríssimos em Cristo, num mundo que nos tenta a
ser os donos da verdade, desprezando os preceitos do Senhor Deus e seus planos
para nós, aprendamos a humilde obediência de Cristo Jesus, entremos em comunhão
com o Cristo obediente ao Pai até a morte. Só então seremos livres realmente,
somente então viveremos de verdade!
Um segundo pensamento: O breve e concreto relato da
Paixão segundo São Marcos, apresenta-nos ao menos três modos de nos colocar
diante do Cristo nosso Senhor. Dois modos inadequados, que deveremos evitar,
apesar de tantas vezes neles cairmos; e um modo correto, a que somos
continuamente chamados. Ei-los:
Primeiramente, o modo dos
discípulos, tão vergonhoso: “Então todos o abandonaram e figuram”. Oh! meus
caros, que desde o início temos sido covardes, desde os princípios somos um
mísero bando de infiéis! Quantas vezes, nos apertos da vida, fugimos e o
abandonamos: no vício, no comodismo, na busca de crendices e seitas, no
fascínio por ideologias, idéias e filosofias opostas à nossa fé! Como é fácil
fugir, como é fácil, ainda agora, abandoná-lo! – Perdoa-nos, Senhor Jesus,
porque ainda hoje somos assim, ainda somos como os primeiros discípulos:
frágeis, inconstantes, covardes mesmo! Perdoa-nos pelo pouco amor, pela falta
de compromisso!
Depois, o modo de Pedro, que
“seguiu Jesus de longe”. Atenção, caríssimos Pedros aqui presentes! Não se pode
seguir Jesus de longe! Quem o segue assim? Quem pensa poder ser discípulo pela
metade; quem se ilude, pensando seguir o Senhor sem combater seus vícios e
pecados; quem imagina poder servir a Deus e ao dinheiro, ao Senhor e aos
costumes e modos e pensamentos do mundo! Como terminarão esses? Como terminou
Pedro: negando conhecer Jesus! – Senhor, olha para nós, como olhaste para
Pedro; dá-nos o arrependimento e o pranto pela covardia e frieza em te seguir!
Faze-nos verdadeiros discípulos teus, que te sigam de perto até a cruz, como o
Discípulo Amado, ao lado de tua Santíssima Mãe!
Finalmente, uma atitude bela e
digna de um verdadeiro discípulo do Senhor: aquele gesto, da misteriosa mulher,
que ungiu a cabeça do Senhor com nardo puro, caríssimo! Notaram, amados em
Cristo, o detalhe de São Marcos? “Ela quebrou o vaso e derramou o perfume na
cabeça de Jesus”. Quebrou o vaso… isto é, derramou todo o perfume, sem
reservas, sem pena, com amoroso estrago… Para o Senhor, tudo; para o Salvador o
melhor! E São João diz que “a casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo”
(Jo 12,3). Ó mulher feliz, discípula generosa! Dando tudo ao Senhor, perfumou
toda a casa com o bom odor de um amor ser reservas! Quanta generosidade dessa
mulher politicamente incorreta! Quanta hipocrisia, quanta mesquinhez dos
apóstolos politicamente corretos, que não compreenderam seu gesto de amor
gratuito! – Senhor Jesus, faz-nos generosos para contigo! Que te amemos como
essa mulher: sem reservas, sem fazer contas! Ó Senhor, que nos amaste até o
extremo, ensina-nos a te amar assim também, colocando nossos perfumes, isto é,
aquilo que temos de precioso, a teus pés! Então, o mundo será melhor, porque o
bom odor do amor haverá de se espalhar como testemunho da tua presença!
Eis, caríssimos! Fiquemos com
estes santos pensamentos, preparando-nos durante toda esta Semana para o Tríduo
Pascal, que terá seu cume na Santa Vigília da Ressurreição! Nós vos adoramos,
Senhor Jesus Cristo e vos bendizemos, porque pela vossa santa cruz remistes o
mundo.
Pe. Lucimar
Geraldo